Na madrugada de 17 de janeiro de 1994, um terremoto de magnitude 6.7 na escala de Ritcher matou 57 pessoas e feriu cerca de cinco mil na região de Los Angeles. O choque foi sentido a uma distância de 320 quilômetros do epicentro. Devido aos estragos causados – mais de vinte milhões de dólares em prejuízos – o fornecimento de luz elétrica na cidade de Los Angeles foi interrompido.
Os habitantes puderam observar, nas noites seguintes, o céu noturno dos nossos distantes antepassados.
Muitos não conseguiram compreender o espetáculo. Tal como os gauleses das histórias de Astérix, começaram a recear que o céu lhes caísse sobre a cabeça. Às linhas de emergência da polícia começaram a chegar chamadas de pessoas assustadas porque olhavam para cima e viam uma «nuvem prateada».
Ed Krupp – diretor do Observatório Griffith de Los Angeles há quarenta anos – diz ter recebido inúmeras chamadas de pessoas em pânico por causa dessa nuvem prateada e por «o céu estar tão estranho». Só depois de alguns telefonemas a tentar perceber o que as pessoas julgavam ver, os funcionários do Observatório puderam perceber a confusão.
A «nuvem prateada» era a Via Láctea e «o céu estranho» estrelas a cintilar em todo o seu esplendor.
O trailer de «Illusion of Lights: A Journey into the Unseen» – um filme em time-lapse dos nossos céus – evoca este episódio e lembra a miopia das civilizações industrializadas: devido à poluição visual dos grandes aglomerados habitacionais, um quinto da população do planeta só vislumbra um céu negro assombrado por meia-dúzia de estrelas fantasmagóricas.
E só o trailer é absolutamente celestial. Vejam-no. Três minutos e meio assombrosos.
Goldpaint, é americano, tira fotografias aos céus dos Estados Unidos desde 2009, é hoje um dos nomes mais conhecidos da astrofotografia e tem uma história para contar.
O verdadeiro caminho:
A íntima relação com o Cosmos começou quando a mãe morreu. Brad Goldpaint era ainda um estudante no último ano de arquitetura e o desaparecimento levou-o a repensar o rumo que queria dar à sua vida.
Naquela altura, a decisão do «caminho» a seguir não possuía ainda um significado simbólico: pegou na máquina fotográfica, afastou-se das grandes cidades e decidiu-se a explorar o mítico Pacific Crest Trail.
O Pacific Crest Trail pode ser percorrido a pé ou a cavalo. Existe também um caminho paralelo para bicicletas – um paraíso!
Estende-se da fronteira dos Estados Unidos com o México até à fronteira com o Canadá, seguindo os montes da Serra Nevada e a Cordilheira das Cascatas paralelamente ao Oceano Pacífico ao longo de 240 quilômetros. O trilho tem um total de 4260 quilômetros, atravessando florestas e reservas nacionais e zonas montanhosas, e evitando as cidades.
Goldpaint começou a fotografar os céus quando fez esse percurso a pé. Aquela foi uma viagem de descoberta: descoberta da natureza, do céu, das estrelas, da paixão em fotografá-las e de uma mulher, Marcella, intrépida e exploradora como ele, uma «alma gentil e carinhosa».
Num trilho com 4260 quilômetros de extensão, os caminhos de Brad e Marcella cruzaram-se ao quilômetro 80.
80 deve ser o número da sorte dos dois.
Marcella e Brad |
O diretor, fotógrafo e editor do filme – só estreará em 2017 porque ainda há muita filmagem por fazer – chama-se Brad Um ano e meio depois, já a viver juntos, decidiram finalmente que havia mesmo um caminho ainda mais longo e definitivo a fazer: largaram o emprego (ele) e uma tese de doutoramento (ela), venderam tudo, compraram uma caminhonete e fizeram-se à estrada para fotografar a Mãe-Natureza, organizar workshops de fotografia e palestras sobre os inconvenientes da poluição visual.
Uma loucura irresponsável para uns, um ato de coragem e uma lição de vida para outros. Seja qual for a nossa opinião sobre esta aventura, Brad Goldpaint conseguiu torná-la recompensadora nos três anos que se seguiram.
É agora um fotógrafo freelancer com trabalhos publicados na National Geographic, Discover ou Wired. Uma das suas fotos – Wandering Light – foi selecionada pela NASA a 25 de julho de 2012 para o sítio Astronomy Picture of the Day.
O seu primeiro vídeo em time-lapse foi lançado em 2012 e resultou da junção de mais de 7000 fotografias e três anos de trabalho. «Within Two Worlds» apareceu na NBC e em dezenas de sites na web.
Era um projeto menos ambicioso que o próximo «Illusion of Lights: A Journey into the Unseen», mas chamou a atenção de empresas importantes: a Adobe e a eMotimo, fabricante de equipamento para câmaras fotográficas, são agora as patrocinadoras oficiais deste novo filme.
Brad e Marcella arriscaram em nome da vontade de serem iguais a si próprios e transmitir aos outros, pela fotografia, a sensação de viajar como «a meio de um sonho, semi-acordado, flutuando, entre o céu e a terra». Nômades de corpo e espírito, continuam a viver na velha caminhonete.
Lar é onde seu coração está.
Fontes: AstroPT - Illusion of lights
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